Fazendo a cabeça | Salvem as Barrigudas!



Conheci a história do Pequeno Príncipe bem tarde. Foi numa das várias mudanças que fizemos quando morava em Maceió encontrei um exemplar em capa dura que pertenceu a minha mãe. Na época a obra e os personagens nem tinham tanto apelo comercial como hoje, mas a fama ia além das constantes citações de misses em concursos ao redor do mundo. Devorei o livro. Não preciso perder tempo e tecer  mil elogios né? É sim uma leitura incrível. É sim para todas as idades. É sim atemporal. Isso ninguém pode negar e ai de quem o fizer.

Uma das coisas mais lindas são as aquarelas feitas pelo próprio autor. Lembro que a que mais deixou meu coração angustiado foi a que mostra três baobás enormes tomando conta do planetinha e o Príncipe desesperado com a situação. Até aquela leitura eu nunca tinha visto um baobá na minha vida, e confesso que passei a ter um pouco de medo da árvore grandalhona. 

Foi em Olinda que conheci a árvore pessoalmente, foi o povo de terreiro que me ensinou uma das histórias mais lindas que já ouvi sobre ela. Eles dizem que seus ancestrais negros tinham uma ligação fortíssima com as forças da natureza, é no baobá que seus espíritos permanecem vivos. O baobá é figura de gênese, de origem, elemento de conexão entre a multiplicidade dos mundos espirituais. Ela é conhecida como “A árvore do mundo”.

Alexandre L’Omi, um grande amigo, me contou por que o povo de terreiro luta tanto para manter essas gigantes erguidas mesmo em regiões urbanas. “A importância do baobá para os nossos ancestrais, e para a nossa tradição é muito grande, por que ela representa para as comunidades africanas a árvore da comunidade, onde todo mundo se reúne, onde todo mundo congrega, onde todo mundo compartilha a sua vida debaixo dela. Algumas delas são bicentenárias e oferecem sombra para todos. Elas preservam dentro de si o espírito de nossos ancestrais, então ela tem o simbolismo.” 

Além da clara relação afetiva descrita por L'Omi, alguns terreiros dedicam essas árvores aos seus orixás. No dia 4 de maio ele gravou um vídeo ao lado de um babobá tombado na sementeira de Olinda, em virtude da abertura de uma via para mais carros circularem na cidade. A imagem é de encher o coração de tristeza... O estado de Pernambuco tem cerca de 110 baobás catalogados e muitos deles estão sob ameaça.

O Ministério da Cultura começou hoje a campanha #SomosTodosFilhosDoBrasil em defesa do direito de manifestar a sua fé, seja ela qual for.


Amigxs nós não moramos no planeta B612, essas árvores para nós não representam qualquer ameaça, pelo contrário, elas são testemunhas vivas da história da humanidade na terra. Silenciar diante de tal violência é perigoso independente de sua crença; caso não haja nenhuma, ela afeta a sua qualidade de vida, se há você abre precedente para que interfiram em sua liberdade de culto, seja ela qual for. A autora deste blog pede #SalvemAsBarrigudas!

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