Fazendo a cabeça | Alicia Keys sem make

Na semana passada Alicia Keys oficializou seu retorno ao showbiz com um clipe incrível, mas o que realmente chamou atenção da imprensa foi uma carta da cantora sobre a escolha de não usar mais maquiagem. Fotografias lindas de Alicia, curiosamente com a aparência mais jovem, passaram a circular na internet e milhões de pessoas aplaudiram a escolha como algo transformador. E é mesmo! "Antes de iniciar meu novo álbum, escrevi uma lista de coisas de que eu estava cansada. E uma delas foi como as mulheres sofrem uma lavagem cerebral e pensam que precisam ser magras, sensuais, desejadas ou perfeitas. Uma das muitas coisas que eu não aguentava mais era esse constante julgamento das mulheres" explica a cantora.

Isso significa que maquiagem é uma prisão. Sim, mas não é regra para todas nós. "Quem não se movimenta não conhece as correntes que o prendem" escreveu Rosa de Luxemburgo, e o raciocínio é exatamente esse.

Toda vez que saía de casa, ficava preocupada se eu não tinha me maquiado. ‘E se alguém quiser uma foto? E se postassem essa foto?!’. E isso tudo, de um jeito ou de outro, era baseado em muito do que as outras pessoas pensavam de mim.

Quando Clarisse Falcão gravou o clipe Survivor  a proposta era bem simples: dar um batom vermelho a cada mulher filmada e deixá-las livres para fazer o que quisessem. O resultado foi incrível. Mulheres se pintavam para a guerra, usavam seus corpos como cartazes para palavras de ordem... mas acredito que poucos deram atenção à mulher que joga o batom fora sem fazer absolutamente nada com ele. Essa é Alicia.

A maquiagem, seja ela qual for, tem o valor simbólico bastante dúbio, para mulher branca em geral pode ser visto como uma prisão, para algumas negras algo que lhes é negado em virtude do tom da pele. É consenso entre as feministas a não escravidão da indústria da beleza, mas quando nos dividimos entre brancas e negras o discurso diverge um pouco. Alicia era refém da própria imagem. Escolher não usar maquiagem é sim libertador, tanto quanto sair de batom vermelho e exigir respeito, sendo puta ou não.

O mesmo se aplica a escolha por usar ou não uma burca, escovar o cabelo ou mantê-los naturais; preservar ou não a virgindade para depois do casamento; usar ou não salto alto; ter cabelos longos ou curtos... Liberdade diz respeito muito mais às nossas experiências particulares do que a algo estabelecido por uma instituição ou um movimento social.

Alicia resolveu parar de usar maquiagem; Laerte é mais feliz sendo mulher; Malala foi à escola; Jout Jout não tira o batom vermelho; Neggata está na universidade; Marta já teve 25 namorados; Lola escreve num blog, Jéssica é gorda e está de boa; eu parei de alisar os meus cabelos. O que você faz para se sentir livre?