O que nos resta?

Imagem: Alberto Pereira

Não é preciso escrever como foi desolador ver o domingo acabar. Foi de se apequenar, de respirar fundo, estufar o peito e seguir em frente. Na noite de domingo eu senti vários dos meus sonhos serem sufocados por fogos de artifício. A luz apagou e seguimos sem ter a mínima noção do que consta no projeto político que foi aprovado e o que sabemos coloca nossas vidas em risco, nos assusta.

Os discursos não foram silenciados, a vozes seguem ecoando por um Brasil cada vez melhor. Saímos de casa com o coração aquecido de esperança por dias melhores, mas o riso não veio quando sol se deitou. É tempo de cuidar da terra, prepará-la com amor, e sobretudo com sabedoria,  se quisermos colher bons frutos, mesmo em clima adverso. Precisamos pensar em soluções inteligentes que não  sufoque a nossa fé. 

Eu acredito que a arte vai ter um papel fundamental nos dias que se seguirão. Acredito porque foi maravilhoso acompanhar humoristas como Marcelo Adnet transformar esses dias tão conturbados em riso. Eu acredito porque, sendo cristã, nunca vi tantos colegas e conhecidos invocando o nome de Deus e a mensagem de amor do Cristo ressurreto. Nunca na minha vida falei tanto da palavra de Deus como no último pleito. O que só me provou o seguinte, na hora da angústia somente Ele é capaz de ouvir as nossas súplicas. 

Vi gente de vários lugares do país tentando entender o que é arte, o que é respeito ao próximo. Vi obras literárias, científicas e históricas se opondo a armas de fogo. Fui capaz de entender a indignação de amigos e irmãos que se opuseram a minha escolha, lhes dei razão, mas fui incapaz de de dissuadi-los das suas. Com isso reconheci que sou profundamente limitada, que preciso de mais conhecimento e muito, mas muito amor.
"Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!"
Um sonho não morre diante de uma derrota, basta o sonhador se erguer, olhar ao redor e mesmo diante do medo persistir. O que vier, e quando vier, será avassalador. Para onde marcharemos? Para onde os nossos sonhos apontarem, e somente quando chegarmos lá perceberemos o quanto essa derrota foi importante, nos daremos conta do quanto somos fortes. Por hora, diante de tudo o que sei a respeito do novo presidente eleito, me resta torcer, com todas as forças do mundo, para estar profundamente enganada.

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