Os feminismos de "Coisa mais linda"


Malu, Adélia, Lígia e Thereza. Escolha uma e se apaixone, junte todas e morra de amores por tudo que elas fazem e representam. Talvez finalmente as pessoas entendam que o feminismo não canta em uma só voz, que, sobretudo no Brasil, é urgente entender a construção social do nosso povo é fundamental para perceber que existem privilégios sim, e eles não nos impedem de andar de mãos dadas.

A história se passa em 1959 e a Bossa Nova, que mais tarde ganharia o mudo graças à classe média carioca, já dava os primeiros passos. A expressão Bossa, é usada a primeira vez por Noel Rosa na canção São nossas coisaslançada em 1930. Só na década seguinte vem o Nova, ligado aos sambas de breque, paradas repentinas onde nasciam falas de improviso ao longo da música. Se a Bossa Nova tinha como tempero brasileiro o samba de roda, a base responsável pelo sucesso internacional era o Jazz americano. Todas influências de origem negra, vale lembrar, e isso tudo gerado em encontros nos apartamentos da zona sul do Rio, bem longe de suas raízes.

Malu é de uma família tradicional paulista, vai ao Rio de Janeiro realizar o sonho de abrir um restaurante ao lado do marido. Chegando na então capital brasileira, descobre que ele fugiu com todo o dinheiro dela, deixando para trás um estabelecimento vazio e em péssimas condições. É no Rio que ela conhece Adélia, negra, empregada doméstica, moradora do morro e cheia de sonhos de uma vida melhor. Lígia é uma amiga da adolescência, seguiu todo o protocolo imposto às mulheres da época, um bom casamento, com um homem de linhagem tradicional e forte ligação com a política. Thereza é o ponto fora da curva, jornalista numa revista feminina, forte, empoderada, casada com um homem "permissivo demais" para época. 



Elas vivem num período onde era necessário romper uma série de barreiras, e as quatro são confrontadas constantemente. O estatus quo precisa ser preservado, mas para quê mesmo? Quem está protegida dentro das convenções, aliás, do que elas estão protegidas  quando estão nos espaços que lhes foram reservados? Não é um drama de mulheres inabaláveis e fortes. Elas têm medo, elas choram, elas desistem, erram, levantam e tentam de novo. É esse fator humano que cativa quem assiste.

"Ah mas e o homens?" Estão todos lá, são alvo do amor delas, são seus algozes, as perseguem, as amam, as desejam, e por vezes, deu a impressão que as temem. Talvez por auto proteção as menosprezam. Eles têm lugar na história por ocuparem os espaços de poder, porque elas os amam, mesmo não vivendo em função desse amor. O sentimento está lá, mas se não estivesse elas não parariam, não teriam suas histórias interrompidas. Digo tudo isso para deixar claro, com todas as letras, eles não são importantes.

Coisa mais linda é uma série necessária, porque precisamos ter em mente que nada que nós mulheres, negras ou brancas, temos hoje veio de graça. Porque o feminismo alcança todas nós sim, em vozes diferentes, pois ocupamos lugares diferentes na sociedade e gozamos de privilégios, ou não, e isso não precisa ser um problema. Precisamos estender a mão e andar de braços dados para não permitir mais nenhum retrocesso. Chega de violência, chega de baixos salários, chega de sobrecarga emocional, chega de sermos responsabilizadas pelas agressões que sofremos, chega de racismo. Por fim, é uma série necessária porque o nome é auto explicativo, você não vai se arrepender, acredite.

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