Por que eu demorei tanto a ouvir ladrão?



Lembro que ano passado saiu um ranking de aclamação do público onde O menino que queria ser Deus estava tão bem colocado quanto Bluesman, álbum que não precisou de muito esforço para entrar em looping no meu ouvido. A capa de Ladrão é direta, como o próprio Djonga se define. É para ser violenta mesmo, dot tipo que não se ajoelha mais.

Se o sangue me incomaodava? Muito.Talvez por isso a resistência inicial. Mas eu esqueci de que a narrativa violenta não é nossa, o sujeito agente da violência com o povo preto que Djonga trás a tona, assim de testa, bem na capa, logo na primeira faixa, é branco. O àlbum não é só uma reação, é um "Dá licença que eu vou ocupar o espaço que eu quero sim, ninguém me impede mais."

Ladrão é sobre olhar pra trás e gritar "Cheguei por que vocês sangraram por mim lá atrás".  Voltar pra casa com a cabeça de um supremacista branco na mão e ganhar a Bença da nega véia. É sobre vencer o sistema que mói a vida do povo preto e favelado. Por isso a ela sorri na foto,  a cria venceu e voltou pra casa viva.


A mãe preta no álbum não é parente do rapper, mas faz as vezes. A contracapa do disco é outra pancada. Demorou pra me alcançar, mas veio com força, um voadora na caixa dos peito, de acelerar e bater forte ao som de cada track. Não posso mais perder de vista esse cara, aliás, ninguém deveria.  Esse é o terceiro álbum, Heresia e O Menino que queria ser Deus são estradas que pavimentaram o caminho para Ladrão, e essa estrada vem numa crescente musical e visual surpreendente. 

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