Baco, me faltaram palavras

Em novembro de 2018 Diogo Álvaro, o Baco Exu do Blues, lançou o álbum Bluesman e não demorou muito pro público sentir a força da mensagem naquele trabalho. Choveram críticas elogiosas, votações onde o público já apontavam o trabalho como o melhor do ano, resenhas no YouTube dissecando a essência de cada expressão, cada palavra, cada som. E todas eram certeiras, Bluesman nos mostra um Baco mais maduro, mostrando sua potência na mesma medida que compartilha suas fragilidades, que não são só dele aliás.


Quatro meses se passaram e, se houvesse mídia física aqui em casa, com toda certeza o meu disco estaria furado. Não dei conta da explosão provocada pelo álbum. Não que eu pretendesse fazê-lo, aliás quem sou eu para conseguir dar conta de um trabalho que trás consigo não somente músicas mas um filme de oito minutos com o argumento estético, uma série fotográfica assinada pela baiana Helen Salomão. Eu escolhi ser só a fã. Ouvir, sentir a pancada, curtir a catarse, deixar o cara cantar uma porção de coisas que estavam lá dentro silenciadas graças a uma porção de experiências ruins e boas também

Eu quis acreditar que somente quando estivesse impregnada o suficiente de Bluesman, que só poderia falar quando finalmente fosse parte da facção carinhosa. Mergulhei de cabeça e sem reservas. Quatro meses. Me permiti uma experiência imersiva de quatro meses para só então vir aqui. 

Blusman é um manifesto de amor e medo, de fragilidade e força, uma reivindicação de reconhecimento da beleza que foi negada ao povo preto. Somos mais de 50% da população brasileira, e ainda assim seguimos sendo subvalorizados, sendo a carne mais barata, uma maioria que prevalece em presídios, hospitais psiquiátricos, nas ruas, vítimas de homicídios. Somos poucos nos espaços de  poder e quando lá estamos, vemos nossa capacidade colocada à prova exaustivamente. 

Eu consigo enxergar uma coesão estética das faixas mesmo diante dualidade que caminha entre o discurso social, as taras sexuais e passionais do rapper. Há quem diga que as músicas mais românticas de Baco não têm nada de rap, que são somente um produto para classe média branca, ganhando assim mais espaço na indústria fonográfica.

A iconografia escolhida para representar o álbum e as ideias que ele carrega são tão precisas que parecem ser as únicas possíveis. A linguagem de Baco e Helen nasceram um para o outro, são fruto de uma construção social e militante semelhante, são indissociáveis e conseguem funcionar sim individualmente. Mas juntos ganham ainda mais força. Por fim, percebo Blusman muito mais como um afago do que como um grito, talvez por isso não tive tanta urgência em falar sobre ele, não é um discurso urgente como o de Mandume ou This is America. Não era algo que estava atravessado na garganta, talvez o fruto de algo que todos precisávamos ouvir. Que bom que podemos fazê-lo.

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