Essa foto foi capa do meu Twitter durante um bom tempo! |
A maioria das mulheres sabe o
furor que se forma em torno de revendedoras de produtos de beleza, sobretudo
quando elas vêm gentilmente ao nosso encontro no ambiente de trabalho. Quando é
alguém que tem essa atividade como principal fonte de renda, tenho a impressão
que a coisa toma uma proporção ainda maior. Todo mundo tira dúvidas, dão uma porção de dicas, tudo conforme o treinamento que as empresas oferecem
para elas. Basta Rose aparecer com a malinha de maquiagem e todas se juntam
aqui no trabalho para encontrar algo que lhe sirva.
Num desses encontros, nem sei
quantas éramos, Rose me indicou um creme para cabelos crespos e cacheados e eu
resolvi arriscar, mesmo achando a embalagem pequena dada a quantidade de creme
que minha juba bebe semanalmente. Uma colega de outro setor comentou.
- Eu acho o máximo quem deixa o cabelo assim como seu, aliás, está super na moda cabelo cacheado né?!
Eu gentilmente respondi
- Não amiga, a gente não tá na moda. Estamos resistindo e existindo!
Deixando o sorriso bem largo para não dar a
impressão de que eu estava dando um fora, e realmente eu não estava.
Moda, antes de qualquer coisa,
está diretamente ligada ao comportamento das pessoas, com o que elas trabalham e em quais lugares elas circulam. No verão a tendência é abusar roupas mais leves,
curtas e que facilitem a prática de atividades ao ar livre; assim como no
inverno os agasalhos, galochas e botas de cano alto são bem vindas. Sem falar
nas cores predominantes escolhidas para cada estação, tons mais alegres e
vibrantes para o verão e a primavera; os escuros e terrosos para o inverno e o
outono. A questão é que todos esses
conceitos são passageiros. A pele e os cabelos não. São
características que ajudam a distinção entre um indivíduo de outro.
No final da década de 1960 e
início dos anos 1970, os negros norte americanos viviam a luta pelos direitos civis,
que contemplava desde a conquista do voto ao simples ato de sentar-se numa
lanchonete para comer. Destaque para o pastor Martin Lutter King que
liderou um dos maiores movimentos pacíficos do mundo. Muita gente apanhou por
querer ser respeitado como cidadão americano sem usar uma arma sequer, a regra
era resistir em silêncio, sem reagir, apenas sentar e se recusar a sair, de uma
lanchonete de brancos por exemplo, até que lhe servissem café.
Não era uma militância fácil,
muitos desistiram da abordagem proposta por King, o custo para o êxito era a prisão ou o próprio sangue, ou os dois! Em 1966 Stokely Carmichael usou pela primeira vez a expressão Black Power após a sua vigésima sétima
prisão.
“Estamos há seis anos gritando liberdade. O que vamos começar a dizer agora é Black Power”
O cabelo crespo tronou-se uma
manifestação política. Meu cabelo não está na moda, ele resiste e empodera; ele
traduz uma transformação que aconteceu primeiro por dentro e agora é visível a
todos e todas. Assumir o black é um tributo ao amor próprio. Não tem essa de "fica bem em todo mundo, menos em mim". Entenda qual o seu tipo de cabelo e sinta-se poderosa por carregar um DNA de luta por direitos iguais.
Agora me diz, depois de uma história dessas, assumir o cabelo crespo ou cacheado é mesmo só para estar na moda?
Agora me diz, depois de uma história dessas, assumir o cabelo crespo ou cacheado é mesmo só para estar na moda?
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