Quando comecei a alimentar esse espaço, eu não tinha em mente a proposta de dicutir filosofias e grandes percepções de mundo. A pretenção não era mergulhar em grandes fabulações do Movimento Negro. Eu queria compartilhar experiências que me tocaram, que me emocionaram e que fizeram a minha percepção sobre mim mesma mudar. Coisas que me ajudaram a me situar no mundo sendo a mulher e negra. A arte, a cultura, os costumes conduziam essa viagem de forma prazerosa, no meu ponto de vista. Foi nessas coisas que apostei.
Eu não tinha interesse em dissertar minha opinião sobre episódios violentos de racismo que ganharam espaço na imprensa, nas redes sociais, rodas de conversa ou na mais vazia e sem graça mesa de bar. Não era sobre isso. Mas sobre formas de expressão que humanizavam a dor do povo negro no no Brasil, como fizeram no caso de Cláudia Silva Ferreira, no projeto 100 vezes Cláudia. Eu não pretendia construir mais pesar em experiências tão dolorosas. Racismo quando não nos mata, nos adoece. Isso sempre me sufocou.
Acredito que preciso negritar minha intenção aqui. Não é jogar purpurina ou tinta colorida em tudo que nos destrói. Ou sobre abraçar a Lagoa Rodrigo de Freitas vestida de branco num protesto em favor da vida de uma criança inocente em mais uma operação policial atrapalhada. Ou, sei lá, promover uma ciranda de conversas sobre o que podemos fazer para adiar o fim do mundo. Não. A ideia não é fingir que esses problemas todos não existem, e menos ainda que eu tenho o poder de mudar todos eles com meu grupo de 12 amigos.
Eu sempre quis construir um discurso leve e objetivo sobre como nossos corpos são potentes, nossas existências não são limitadas, nossa passagem aqui na terra jamais será invisibilizada ou apagada como tentaram, e continuam tentando. Felizmente seguem falhando miseravelmente. A questão é que eu nunca me senti com arcabouço teórico suficiente para mobilizar os debates necessários do feminismo negro. Nunca quis reivindicar a responsabilidade de levantar essa bandeira. Eu não me sentia pronta. Não me sinto até hoje.
Então me concentrei e trazer pra cá tudo aquilo me fazia sorrir da mesma forma que sorrir, que trazia de volta o mesmo frescor diante da Menina Sentada do Portinari. Mais tarde eu descobri que estava colocando em prática um exercício proposto por bell hooks sobre o olhar negro.
“As imagens desempenham um papel crucial na definição e no controle do poder político e social a que têm acesso indivíduos e grupos sociais marginalizados. A natureza profundamente ideológica das imagens determina não só como outras pessoas pensam a nosso respeito, mas como nós pensamos a nosso respeito”. hooks, bell. Olhares negros (bell hooks) (p. 34). Editora Elefante. Edição do Kindle.
E olha a leitura dos textos de autoras como bell hooks, Bárbara Karine, Grada Kilomba foi uma das experiências mais dolorosas que já tive na vida, porém necessária. Mas acho que cada uma delas merece um texto especial. Por hora, gostaria de dizer que estou de volta. Uma pandemia global, uma filha, um mestrado e uma tatuagem depois. Obrigada por me ler.
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