Detalhde de uma fotocolagem de Karina Freitas |
Não é novidade nenhuma resenhas críticas de obras literárias feitas por leitores comuns, observações não academicistas e, a maior parte das vezes, bastante passional sobre algum texto. Aqui você pode encontrar alguns exemplos, por que sim, eu só escrevo sobre o que eu gosto, então tem muito amor em tudo. Há algumas semanas iniciei a leitura do livro Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves. A história, essencialmente é semelhante a do Livro dos Negros, que já resenhei aqui no blog.
Ambas possuem protagonistas que foram sequestradas do continente africano pra serem escravizadas no Novo Mundo ainda crianças, mas, diferente de Animata, Kehinde vem parar na Bahia de todos os Santos. Sim, eu ainda quero escrever um texto mais profundo sobre a obra completa, são mais de 600 páginas, é difícil fazer o que estou me propondo agora, mais ainda diante de um volume tão denso, tanto físíco como histórico.
Eu sempre tive dificuldade de entender perfis de militância negra celebrtando famílias afrocentradas, quando pai e mãe são negros. Nunca tive aversão ao discurso mas tinha dificuldade de entender a força e a importância dele. E foi lendo Um defeito de cor que finalmente pude entender o porquê de festejar famílias negras.
Se nas produções nacionais éramos poucos, estereotipados e muitas vezes sem história ou passado, eu tive a oportunidade de acompanhar seriados como Um maluco no pedaço e Eu, a patroa e as crianças. Assitindo essas duas, e conhecendo o contexto político do racismo nos Estados Unidos, onde as relações interraciais eram bem menos comuns do que no Brasil, confesso que ver uma família como a do tio Phil e do Michael Kyle bugava a minha cabeça. A minha família é bastante missigenada, ver aquelas famílias na ficção tão racialmente homogêneas me deixava bastante confusa.
A família Banks, a própria realeza das minhas tardes depois da escola |
A grande questão é, eles, os Banks e os Kyle, me ajudaram a achar natural e comum a existência de famílias afrocentradas. Logo, não fazia o menor sentido tanto estardalhaço com algo tão bobo. O problema é que historicamente nunca foi assim. Em Um defeito de cor, Kehinde viu sua família de sangue desaparecer diante de seus olhos de forma muito cruel. Isso não a impediu de construir laços afetivos com aqueles que encontrou aqui no Brasil. Ou pelo menos quase não a impediu.
Por mais de uma vez, a medida que Kehinde amadurece e torna-se mulher, ela percebe que o próprio corpo não lhe pertence. Mesmo que ela se entregasse por amor a um homem escravizado em casamento, isso também não mudaria. Aqueles indivíduos não eram donos do próprio destino, ou dos próprios desejos. Repetidas vezes a narrativa apresenta a máxima do
"Para quê construir uma família na senzala? Se o dono cisma, vende cada um pra uma lugar diferente e pronto, acabou."
Família Kyle, sempre juntos mesmo que os métodos educacionais sejam duvidosos. |
Várias mulheres evitavam se apaixonar ou, até mesmo engravidar para não ver sua decendência presa ao cativeiro. Algumas que chegavam a engravidar abortavam ou, quando os métodos para fazê-lo dava errado morriam junto com o feto. Foi quando a grande ficha finalemnte caiu pra mim. Quando nossos antepassados aqui cehgaram, ser família também nos foi negado, e eu, leitora de meia obra que sou, recomendo profundamente o livro Um defeito de cor.
A obra lançou luz sobre questões que sempre foram muito confusas ou sem propósito pra mim. E que privilégio o meu de poder ter visto duas famílias tão lindas juntas na ficção, que maravilhoso perceber que eles me ajudaram a naturalizar uma conquista como algo simples. Obrigada Ana Maria Gonçalves, sigo ansiosa por casa palavra que ainda não li.
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