Desenhando sem esteriótipos

Em 2016 um artigo informal publicado no Medium listou, com base em filmes, desenhos, publicidade, filmes etc, alguns esteriótipos de homens e mulheres negras nos Estados Unidos. O material teve grande repercussão na época apontando uma série de comportamentos comumente atribuídos ao indivíduo negro, tratando-o como ridículo, infantil, feio, animalizado, hipersexualizado, conceitos profundamente negativos. Esse tipo de construção narrativa é comum e sociedades racistas que esvaziam de significado a existência do outro, sua cultura e sua identidade.

Talvez quem se dedica um pouco mais a estudar publicidade, história da arte, quadrinhos, cinema, deve estar mais familiarizado com os perfis listados. E acreditem, muitos desses esteriótipos não estão apenas na terra do Tio San, foram tropicalizados e seguem tão cruéis quanto possível. Existe um esforço em desconstruir essas figuras nas mais diversas linguagens. Não faz muito tempo encontrei um tutorial criado pela Luc para ilustradores e coloristas sobre como criar personagens negros sem reforçar esteriótipos.

Antes de começar a escrever uma resposta adequada, lembre-se que não saber colorir uma pele negra não significa que você seja intrinsecamente racista. Você provavelmente só não praticou o suficiente. Colorir o personagem primeiro de branco e depois ir diminuir o brilho para escurecer a pele. Normalmente isso deixa um aspecto bastante grosseiro ao desenho. Tente não fazer isso.

Quanto a escolher cores para a pele escura, provavelmente há uma maneira mais precisa de fazer isso. Eu costumo ir dando uma olhada no desenho, até que a cor pareça natural. Isso vem graças a muita prática, então, provavelmente vai demorar um pouco para você conseguir ter essa percepção. De qualquer forma, se isso ajudar, minhas escolhas de cores geralmente estão em torno desse alcance (olhe o círculo colorido na ilustração abaixo) se eu estiver trabalhando com uma paleta natural.

Dito isto, não há realmente “uma” cor correta para usar na hora de pintar uma pele negra. A pele negra é muito variada! Brinque com tons suaves, sombras, etc. A pele das palmas das mãos e das plantas dos pés das pessoas negras são tipicamente mais claras que o resto de toda a pele.

O tipo de lábio é uma característica que varia muito de pessoa para pessoa. Alguns tons de lábios se misturam muito bem com tom do resto da pele do rosto, mas às vezes, o lábio superior é mais escuro, às vezes o lábio inferior é mais claro. Geralmente, uma boa regra é que o lábio inferior é mais rosa na parte interna e vai ficando mais escuro conforme o lábio vai aparecendo do lado de fora da boca. Tente não pintar os lábios das pessoa negras de rosa muito “vivo”. Isso não é certo pois esta forma de colorir é originária de caricaturas racistas e ofensivas.

Quanto mais escura for o tom da pele de seu personagem, geralmente menos você deve fazer o efeito “blush”. Mesmo assim, eu ainda faço o blush em meus personagens negros como uma escolha estética. Em vez de colocar uma sobreposição vermelha, eu costumo usar o próprio tom de pele do personagem para o blush, multiplicando uma camada e ajustando a opacidade até parecer mais natural.

A pele negra tende a refletir a luz. Em vez de clarear a pele toda, dando um aspecto chapado ao personagem, pense nesse efeito da pele mais como uma superfície que gera reflexo e mostre a luz como se estivesse se refletindo.

Estude a arte de como colorir pessoas negras com artistas negros! Ver a forma como os negros reais representam suas próprias características é uma boa maneira de evitar que você faça caricaturas. A hashtag #drawingwhileblack, no Twitter, é um bom lugar para observar o trabalho de artistas negros.

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